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Em um país com as dimensões continentais e a complexidade do Brasil, a escolha de um presidente da República é um dos momentos mais críticos para a sociedade. A liderança de uma nação tão vasta, com uma população diversa e desafios econômicos, sociais e ambientais gigantescos, exige não apenas competência administrativa, mas também um senso profundo de responsabilidade.
Governar o Brasil não é uma tarefa simples e, para desempenhá-la de forma eficiente, o presidente deve possuir não só conhecimento técnico e político, mas também equilíbrio emocional e capacidade de diálogo.
Nos últimos anos, observamos que alguns pré-candidatos à presidência têm se destacado negativamente, exibindo comportamentos que levantam sérias preocupações. Agressões verbais, violência política de gênero, manipulações, mentiras, e até indícios de transtornos de personalidade têm sido notórios em certos perfis. Embora por razões éticas não mencionemos nomes, é evidente que, em muitos casos, essas atitudes comprometem não apenas a imagem dos candidatos, mas a própria credibilidade do processo democrático.
De acordo com a psiquiatria, comportamentos que podem parecer anormais não são, necessariamente, um sinal de doença. O filósofo francês Georges Canguilhem, em sua tese de 1943, já destacava que a linha entre o normal e o patológico depende da adaptação do indivíduo ao meio. Na política, essa ideia ganha uma relevância especial: um candidato à presidência pode manifestar características que, isoladamente, seriam preocupantes, mas o que deve ser analisado é a sua capacidade de adaptação às demandas do cargo.
No entanto, quando esses comportamentos indicam uma incapacidade de adaptação, seja pela megalomania, ressentimento, ódio ou vulgaridade, tornam-se um sério risco para a estabilidade política e social do país. Um líder que não é capaz de controlar suas emoções e agir com racionalidade em momentos críticos pode transformar decisões políticas em tragédias coletivas.
Diante desse cenário, surgiu o debate sobre a necessidade de avaliar a saúde mental dos candidatos a cargos eletivos. Em 2020, o Projeto de Lei (PL) 159/20, proposto pelo ex-deputado Sérgio Vidigal (PDT), trouxe à tona essa questão ao exigir a apresentação de laudos psiquiátricos e psicológicos para os candidatos. Embora a proposta tenha gerado divisões no Congresso Nacional, ela evidenciou a preocupação crescente com a qualificação emocional dos indivíduos que assumem cargos de poder.
A resistência a esse tipo de medida reflete, em parte, a dificuldade de se discutir questões de saúde mental na política. Muitos parlamentares evitaram se posicionar claramente sobre o mérito da proposta, o que sugere que, embora haja consciência do problema, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que o tema seja tratado de forma séria e institucionalizada.
Infelizmente, o cenário político brasileiro tem mostrado uma crescente ocupação de cargos públicos por pessoas desqualificadas para o exercício da função. Isso vai além da questão técnica: é também uma desqualificação moral e ética. Candidatos sem preparo adequado, que exibem comportamentos impróprios, acabam por descredibilizar as instituições e, em última instância, enfraquecer a democracia.
Não basta que um presidenciável tenha uma “ficha limpa” no sentido legal. Ele deve, acima de tudo, demonstrar aptidões mentais e emocionais que o capacitem a tomar decisões equilibradas e racionais em nome de uma nação. Um teste rigoroso de avaliação psiquiátrica e psicológica para candidatos à presidência seria um passo fundamental para assegurar que a escolha do líder máximo do país seja feita de maneira responsável e criteriosa.
A escolha de um presidente da República é uma responsabilidade que recai sobre todos os eleitores, mas a estrutura que permite essa escolha também deve ser aperfeiçoada. É imperativo que as qualificações técnicas e emocionais dos candidatos sejam criteriosamente avaliadas, para que o Brasil não se veja novamente à mercê de líderes que, ao invés de promoverem o bem comum, perpetuem o caos e a desordem.
Se medidas como a exigência de laudos psiquiátricos e psicológicos forem implementadas, o processo eleitoral poderá ganhar um novo nível de seriedade. Não apenas evitaremos líderes despreparados, mas também poderemos mitigar os riscos de que o poder centralizado nas mãos de uma única pessoa se transforme em uma verdadeira desgraça coletiva para milhões de brasileiros.
A presidência da República não deve ser um palco para egos inflados ou para demonstrações de autoritarismo. Ela requer um líder que compreenda a profundidade de sua responsabilidade e que esteja emocionalmente preparado para conduzir a nação com equilíbrio, respeito e ética. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, essa responsabilidade se torna ainda mais evidente. E cabe a todos, tanto eleitores quanto legisladores, garantir que a pessoa certa seja eleita para essa posição crucial.
*Com informações de Ronaldo Morenno