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Júlio Prestes de Albuquerque foi o último presidente eleito da Primeira República (1889-1930), mas o único que nunca chegou a assumir o cargo. Nascido em Itapetininga, interior de São Paulo, em 15 de março de 1882, Prestes teve uma trajetória política marcada pelo comprometimento com o desenvolvimento do estado e do país. Sua vitória nas eleições presidenciais de 1930, com 1.091.709 votos, seria um marco, mas eventos inesperados culminaram em seu impedimento, em meio ao golpe de 1930, liderado por Getúlio Vargas.
Prestes começou sua carreira política jovem, focado no progresso do Brasil. Carinhosamente chamado de “Julinho” por seus correligionários e amigos, o apelido refletia sua proximidade com o povo de São Paulo. Formado em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo (atual USP), ele se destacou como deputado estadual e federal, além de ter sido presidente da Câmara dos Deputados. Em 1927, foi eleito presidente do estado de São Paulo (equivalente ao cargo de governador), implementando importantes reformas na agricultura e infraestrutura, ajudando a estabilizar a economia paulista, então dependente do café.
A crise que resultou no impedimento de Júlio Prestes e na deposição de Washington Luís tem raízes na instabilidade política da Primeira República. A chamada “política do café com leite”, que alternava o poder entre as elites de São Paulo e Minas Gerais, foi rompida quando Washington Luís, ao final de seu mandato, escolheu apoiar Prestes, um paulista, para sucedê-lo, em vez de um candidato mineiro. Isso gerou descontentamento em Minas Gerais, que se uniu ao Rio Grande do Sul e à Paraíba na Aliança Liberal, lançando Getúlio Vargas como candidato à presidência.
Derrotado nas urnas, Vargas não aceitou o resultado e, aproveitando o clima de crise econômica mundial de 1929 e as alegações de fraude eleitoral, liderou um levante armado que derrubou Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes.
Embora tenha vencido com ampla margem de votos, Prestes foi vítima das tensões políticas da época. O golpe que impediu sua posse, embora chamado de “Revolução de 1930”, foi, na prática, um golpe militar. A morte de João Pessoa, candidato a vice-presidente na chapa de Vargas, foi utilizada como justificativa para a tomada violenta do poder. Enquanto Prestes estava em viagem pela Europa, foi impedido de voltar ao Brasil para assumir a presidência.
A deposição de Júlio Prestes marcou uma das maiores injustiças da história política brasileira. Ele foi eleito legitimamente, mas viu seu direito ao cargo ser usurpado por forças militares e políticas. Embora Getúlio Vargas tenha implementado, mais tarde, importantes reformas sociais e trabalhistas, o golpe de 1930 jamais deveria ter ocorrido em detrimento da escolha popular.
Após o golpe, Júlio Prestes afastou-se da política ativa e permaneceu discreto, sem buscar vingança ou revides. Mesmo longe do cenário público, seu legado de modernização em São Paulo e sua integridade pessoal permaneceram. Em 1945, ele foi novamente eleito deputado, mas sua imagem já estava marcada pela injustiça histórica de ser o único presidente eleito do Brasil que nunca tomou posse.
Júlio Prestes faleceu em 9 de fevereiro de 1946, deixando como legado uma carreira política honrosa e o exemplo de um homem público que, mesmo afastado do poder, manteve sua dignidade e respeito pelo país. Sua história é um lembrete da importância de preservar a democracia e de que conquistas populares jamais devem ser anuladas pela força.
*Com informações de Ronaldo Morenno
ronaldmorenno.com.br