A fé, segundo a Bíblia, é definida no livro de Hebreus como “a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hebreus 11:1). Esse conceito refere-se à confiança em realidades espirituais e na providência divina, mesmo quando essas realidades não são perceptíveis aos nossos sentidos imediatos.
A fé transcende o mundo visível, oferecendo uma base de esperança e confiança que vai além da razão humana. No entanto, isso não significa que a fé e a ciência sejam incompatíveis. Ao contrário, a ciência, definida como o estudo sistemático e empírico do mundo natural, pode e deve ser conjugada com a fé, criando um diálogo construtivo e enriquecedor.
A ciência tem como objetivo compreender a natureza, explicando fenômenos através de observação, experimentação e análise. Esse conhecimento não contradiz a fé, mas busca entender o funcionamento do mundo que, para muitos cristãos, é visto como criação divina. A busca pelo conhecimento científico pode ser, portanto, uma forma de explorar e admirar as maravilhas da criação, reconhecendo as leis e os princípios estabelecidos por Deus no universo.
Apesar da aparente oposição entre fé e ciência em determinados contextos históricos, muitos cristãos conseguem harmonizar ambos com tranquilidade. A fé não deve ser vista como uma barreira ao conhecimento científico, e a ciência não precisa ser encarada como um inimigo da fé. A crença em Deus e a busca pelo conhecimento científico podem coexistir em uma visão de mundo mais rica e complexa, onde a fé proporciona um sentido ético e moral, enquanto a ciência oferece explicações sobre o funcionamento do mundo físico.
No Brasil, a Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2) desempenha um papel fundamental nesse diálogo. A ABC2 é uma iniciativa que promove a comunicação e a integração entre a comunidade cristã e o campo científico. A associação busca construir pontes entre a teologia, a filosofia e as ciências, incentivando o diálogo entre a fé cristã e as descobertas científicas. Esse trabalho é essencial para que cristãos no Brasil compreendam que não precisam escolher entre a fé e a ciência, mas podem abraçar ambas como formas complementares de entender a realidade.
O diálogo entre fé e razão é uma discussão antiga, que remonta a filósofos e teólogos como Santo Agostinho e Tomás de Aquino, ambos defensores da ideia de que a razão e a fé não se contradizem, mas se complementam. Esse diálogo continua relevante na atualidade, à medida que novas descobertas científicas desafiam antigos paradigmas. A tarefa dos cristãos é desenvolver e promover visões bíblicas sobre a natureza, o escopo e as limitações da ciência, e sobre como essas interações entre ciência e fé podem enriquecer nossa compreensão do mundo.
A ciência, embora poderosa, possui suas limitações. Ela não pode, por exemplo, fornecer respostas sobre questões morais ou espirituais, que são frequentemente campo da fé. Nesse sentido, o avanço científico, ao revelar novos conhecimentos, pode levantar questões teológicas que merecem investigação atenta e criteriosa. A fé, por sua vez, pode oferecer uma estrutura ética para aplicar de forma responsável os frutos do avanço científico.
Um exemplo claro de como a fé e a ciência podem trabalhar juntas em favor do bem comum é a questão da vacinação. A vacinação é um dos maiores avanços da medicina moderna, responsável por salvar milhões de vidas ao longo da história. Ela é um exemplo prático de como a ciência pode contribuir diretamente para o bem-estar da humanidade, prevenindo o avanço de doenças, epidemias e pandemias.
Ser cristão não significa negar a ciência ou agir de forma irresponsável diante de questões de saúde pública. Pelo contrário, a fé nos chama a proteger a vida, e a ciência oferece ferramentas eficazes para isso. Nesse contexto, a vacinação, longe de ser uma afronta à fé, é uma forma de amar o próximo, preservando vidas e cuidando da saúde coletiva. A recusa à vacinação com base em argumentos que ignoram o consenso científico pode ser vista como uma forma de negligência com a vida, algo que vai contra os ensinamentos cristãos.
No Brasil, o Instituto Butantan desempenha um papel crucial na produção de vacinas, não só para o Brasil, mas para o mundo. O trabalho de excelência realizado pelo Butantan, especialmente durante a pandemia de COVID-19, é um exemplo concreto de como o avanço científico pode contribuir de maneira significativa para a saúde pública. Negar a importância de instituições como o Butantan seria desconsiderar os benefícios que a ciência pode trazer à sociedade, especialmente em momentos críticos.
A fé e a ciência, longe de serem opostas, podem caminhar juntas em um diálogo construtivo que enriquece tanto a compreensão do mundo quanto a vivência ética e moral. O trabalho da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência é um exemplo notável de como a comunidade cristã pode engajar-se ativamente com a ciência, promovendo uma visão equilibrada e integrada da realidade.
Desenvolver uma abordagem cristã sobre a natureza, as limitações e as implicações da ciência é uma tarefa urgente para os dias atuais. O avanço científico, especialmente em áreas como a medicina, oferece grandes benefícios para a sociedade, e a fé pode oferecer um guia moral para garantir que esses avanços sejam usados para o bem comum. A vacinação é um exemplo prático de como a fé e a ciência podem colaborar para salvar vidas e promover a saúde pública, demonstrando que a verdadeira fé nunca deve se opor ao conhecimento, mas sim trabalhar ao lado dele em prol do bem-estar humano.
Ao final, é essencial reconhecer que a fé, assim como a ciência, busca a verdade. A verdade científica e a verdade espiritual não são rivais; são, de fato, faces de uma mesma busca pela compreensão do mundo e do nosso papel dentro dele. O desafio, portanto, é conjugar essas duas dimensões de forma harmoniosa, promovendo tanto o progresso científico quanto o desenvolvimento espiritual da humanidade.
Ronaldo Morenno é empresário, político, reverendo, escritor, articulista, conferencista e jornalista profissional, além de ex-comentarista político em telejornal. Com uma carreira de mais de 35 anos dedicada à análise e atuação no cenário político, possui ampla experiência e conhecimento em questões políticas nacionais e internacionais.